terça-feira, 7 de outubro de 2008

nem tudo é devaneio...

Caríssimos amigos e amigas

Venho por meio deste, comunicar a todos que a vida, esta vida a qual nos vangloriamos tanto de possuir, não é nossa. E sim, nós somos dela!! Os pores do sol, assim como os nasceres nos mostram o quão curto e simples é o ato de viver.
Domingo passado combinei com um amigo de mostrar-lhe a Lagoa Mirim, Capilha. Porém, como a grande maioria sabe, eu só possuo uma Turuna 83, o que provavelmente iria nos deixar no meio do caminho. Bom, consegui uma BIZ emprestada com uma amiga. E aí começou meu martírio, ela ficou de me dar a moto no sábado à noite, quando nós duas íamos sair juntas. Porém, cerca das 21horas me mandou mensagem dizendo que não ia mais. E que era pra eu pegar no domingo pela manha. Bom, domingo esperei meu amigo chegar, e antes de sairmos, minha mãe _ sempre elas, né _ perguntou se ele tinha habilitação pra carro, disse que tinha, mas que não estava com ele, e ela disse a mim para que eu fosse na minha moto. Bom, claro que não a ouvimos _sempre os filhos, né_ e fomos buscar a moto de minha amiga. Esperei um pouco até a moto chegar na casa dela _ a irmã mais velha havia saído nela_ e viemos embora. Abasteci e o frentista _Lizandro_ disse que era pouco. Lá vou eu atrás de garrafas pra levar. Finalmente às 10:22 saímos em direção a Capilha. Ia a uma média de 90 a 100kmh. Íamos por hora rindo e por hora em silêncio. Ficava imaginando como seria lá, se estaria ventoso, se continuaria com o sol que estava nos abençoando na estrada.
Bom, em certo ponto, lembro-me de pensar que deveria ter enchido os pneus, mas como já havia percorrido alguns quilômetros, segui sempre e neste mesmo momento meu pensamento foi vencido por eu ver um rebanho de vacas amarelas... risos... meu amigo disse que falava muito e eu disse que ia brincar com ele de vaca amarela: resposta dele eu só conheço vaca preta e branca, não amarela... expliquei a brincadeira antes e neste dia mostrei as vacas amarelas a ele. Seguimos, até que um momento, a roda traseira da BIZ começou a rodar em ziguezague... isto é, perdi o controle e ...e... e... não me lembro de mais nada. Acordei quando estava na ambulância, me disseram que meu amigo estava bem e indo em outra ambulância atrás. Reconheci Elvis, calma eu não to radiando, ainda.... Não é o Presley... o Elvis que foi meu aluno e da Tati no Bengalez.. Foi ele que me socorreu na ambulância. Pedi que não ligassem a minha família e acho que meu pedido foi mandado por telepatia para meu amigo que me disse a mesma coisa_ não quis ligar pra sua casa e deixar pra ver o que você resolve. Isso por que há dois atrás tinha sido minha irmã mais nova a se acidentar também de moto, numa das esquinas da Colombo. Bom, ambas tivemos sorte. Minha irmã, sábado sofreu em minhas mãos, por eu debochar que conseguia fazer alongamento e ela não. Não preciso dizer a vocês qual foi a primeira coisa que ela fez quando cheguei em casa né?
Voltando, no caminho do hospital pedi para que Elvis ligasse para a Tati, que foi lá em casa saber como a mãe estava. E a mãe disse a ela: "tô bem, com pressão alta porque a Renata ia pegar uma moto emprestada pra ir até a Capilha." Claro que a Tati não falou nada a ela também. Bom, no hospital, depois de medicada, liguei pra mãe, finalmente e disse o que tinha ocorrido. Pedi que me mandasse uma roupa, já que a minha estava toda rasgada. Minha irmã chegou lá e nesta hora meu amigo já estava quase de alta. Quando liberaram ele, pedi que me liberassem também e o médico disse: se conseguires ficar sentada, sem vomitar e sem falar asneiras estás liberada. Minha irmã Débora e a Tati disseram pra ele na hora: mas este é o normal dela.... falar asneira... estava bem acompanhada né...bom, fui liberada no mesmo momento de meu amigo.Vim para casa de minha irmã, onde permaneci algumas horas, pós vim pra casa, onde encontrei com quase todas as minhas tias e tios, juntos... e depois pedi para deitar. Estava com ordens médicas de ser acordada de duas em duas horas... a Tati cumpriu direitinho esta ordem me ligando em um momento falando algo que eu não soube responder...(em consideração as crianças que podem ter acesso a este texto, não irei dizer o que era- que ela me disse depois). Os outros momentos da noite que acordei vi minha mãe deitada ao meu lado. Não sei qual o limite de amor materno. Que mulher! Que orgulho de carregar seu sangue em minhas veias, e atualmente um pouco fora de mim, nas feridas...Meu pai também sempre presente, porém não tão atuante, uma vez que sente-se reprimido pela minha situação de frágil, a qual nem ele, nem eu estamos acostumados.
Domingo a noite antes de dormir ainda recebi a visita e assistência de Maria e Tati...amigas de muito sangue frio e que mostraram que seu amor por mim não tem limites. É nestas horas, talvez, que sabemos reconhecer: claro que não. Sei muito bem valorizar a Alice, minha amigona que está com medo de me ver da forma a qual estou, além de ter inúmeras outras pessoas que não sabem de minha situação passional...
Preciso dizer que este texto teve origem primeiramente para eu ler apenas. Isso porque uma amiga me abriu os olhos diante da vagacidade de minha vida a mim mesma. Fiquei o tempo todo preocupada com meu amigo. Com sua vida, com quem ia lhe cuidar, quem iria fazer os curativos dele, como que ele não teria um dia ao menos de atestado, será que ele ainda estaria disposto, posteriormente, a enfrentar outra estrada comigo: esse pensamento nele foi demasiado apenas porque eu não pensei em mim. Eu não havia parado pra pensar que minha vida tinha quase ido naquele momento. Talvez por eu ter ficado desacordada e não lembrar de muitas dessas coisas. Não que eu não pense mais nele, penso e muito, afinal é um marco na nossa história..
Porém, ontem de manha- segunda – recebi a visita de um cara que diz ter salvado a minha vida. Ele disse que tinha tirado meu capacete a tempo de eu não ser sufocada, o que estava quase acontecendo. O capacete não facilitou a sua saída de meu corpo, e desta forma dificultou a minha respiração. Disse-me ele que falou o tempo todo comigo pra não me deixar dormir, porém eu não lembro disso. Só acordei na ambulância.
É neste ponto que paro pra pensar na fragilidade disso que chamamos de vida. Eu podia ter morrido se ficasse dois minutos a mais com o capacete, e, no entanto to aqui hoje, deitada com o notebook na mão esperando as cicatrizes da pele sararem pra seguir viagem por este caminho que sabe-se lá onde vai parar. Sabendo que as cicatrizes da alma, estas não têm mais salvação, ou ao menos elas se fazem necessárias para o meu seguir.
Queria dizer meus amigos, que se eu soubesse que iria morrer naquele dia, eu não sei se deixaria de fazer algo, a não ser levar meu amigo. Acredito que a vida tem de ser perdida enquanto se vive, e não “sentada cheia de dentes, esperando a morte chegar...” por isso minha mensagem neste momento para vocês, é a seguinte. Estão preparados para depararem com um pneu estourado na faixa: caso isso ocorra, ficaria algo que queriam ter feito, mas faltou tempo, ou mesmo coragem.... viva, meu caro, e não tenha vergonha nunca de ser feliz.