E quando se vê já é hora de
acordar, correr, pintar, descabelar, lavar. Vestir a máscara, pegar o jornal,
fechar o portão e 1,2,3... gravando! A cena da vida está começando... ou será
terminando? A rotina te faz menos... te transforma em uma função, adequação,
razão, equação.
Quando se vê já são sete horas,
O ônibus ainda não chegou, o trânsito
já canta com suas buzinas, aceleradas e freiadas. Grito de dor ou prazer? O motorista
sorri, o cobrador automaticamente, junto com o troco, dá o bom dia, passageiros
veem passar, passar, passar...
Quando se vê já são dez horas,
O pânico e estresse do ‘ter que
dar certo’, do mostrar que somos máquinas perfeitas e que vencemos todas as
adversidades que o sistema capitalista impõe pra ser cada vez mais rigoroso,
competitivo, frio e sádico.
Quando se vê já são meio dia,
A comida desce, os passos levam e
trazem automaticamente, o telefone diminui um pouco a solidão no meio de tanta
gente-máquina, ou maquina-gente? O chocolate - no doce de viver - o café - no quente de sentir -, o chimarrão - no
gosto de compartilhar: a cumplicidade do excêntrico, do diferente àquele lugar.
Quando se vê já são dezessete horas,
A cobrança aumenta, os olhos
secam, a garganta xinga, magoa, fere e reduz. A inteligência reproduz a burrice,
o telefone mente, engana e ilude.
Quando se vê já são dezoito
horas,
Já é hora de pegar no giz, de
sonhar com um futuro melhor, almejando a mudança, o avanço, o sonho; a utopia
continua,
Quando se vê são vinte horas,
Os pés cansam, as mãos anseiam o
quadro, os olhos outros olhos, o sorriso a esperança.
Quando se vê já são vinte e duas
horas,
As luzes do corredor se acendem,
os pés se guiam àquela porta que os levou à cena, bolsa largada, corpo
espalhado, paredes vazias, nem os negões batucam mais. Fim de espetáculo,
porque daqui a pouco, novamente, já serão seis horas e a certeza que fica é que 'A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.'
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