domingo, 21 de outubro de 2007

Primeiros Passos

Hoje completam doze dias exatos,ou exactos , que Manu partiu de sua pequena cidadezinha rumo ao desconhecido. Rumo ao descobrimento, ao auto-descobrimento, à aventura, ao medo, à solidão, às dores, ao crescimento, às alegrias, ao entusiasmo, às depressões, à saudade e a certeza de que irá voltar. Parece pouco tempo para tantas sensações, porém o que Manu não sabia era que sua provação começara muito antes do que qualquer pessoa no seu lugar poderia imaginar.

Ansiedade ao partir. Despedidas dos amigos, em uma festa só pra ela...inesquecível. Após, um dia vazio para arrumação de malas e sentimentos. Um olhar observador a sua volta; sua cama, seu quarto, sua família, seu cão, seus vizinhos, seus livros, seus amigos, sua paixão. Serão os mesmos ao seu retorno? Talvez até sejam, mas e ela, será a mesma?

Domingo, dia 07 de outubro, já encontra-se longe de sua casa. Em busca de economia, foi de carona,ou boleia, para POA. Segunda efetiva o que só lhe preocupava nos últimos meses: em mãos, finalmente, o visto de estudante, a passagem, e aflitamente, o coração. Neste mesmo dia, à noite, três de suas raízes batem à porta...trazendo um sorriso fortificante e energético às vésperas de sua partida. Sua mãe, sua irmã e sua sobrinha de cinco meses, Thais, que trazia consigo seu coelho, para que Manu desse nós em suas orelhas. Terça. Aeroporto. Excesso de babagens. Coloca isso, tiro aquilo, aperta aqui, coloca lá...ufa, deu!! Depois Manu sentirá falta do que a razão lhe cegou na hora dessa seleção. Na sala de espera, pensando em seus próximos momentos, depara-se com uma guria muito simpática ao seu lado conversando com uma senhora do seu outro lado...entenderam? risos... A guria chama-se Carol, uma catarina indo cursar seu mestrado de farmácia em Porto...a senhora sai para ir ao banheiro,ou casa de banho, e perde o lugar...ficaram Manu e Carol conversando, ou a conversar, até a hora do embarque... A organização dos acentos faz com que elas se separam. Manu, senta-se na janela 18A, e ao seu lado, uma guria chega reclamando.... e ao sentar-se seu acento vai junto....descobre que está quebrado....depois ao tentar ouvir pela tradução simultânea o filme que está passando, descobre que seus fones também estão quebrados... Manu, mesmo com medo de apanhar, resolve ser solidária e começa uma conversa, descobre que ela é oriunda de sua mesma cidade e que hoje está morando na Irlanda.... Manu acha o máximo, mesmo sem imaginar sequer onde é Irlanda... Descobre que além do mal humor engraçadissimo, Verônica tem um grande carisma consigo, que jamais irá esquecer. Fim de viagem. Encontram-se Manu, Carol e Verônica para ver o nascer do sol em Madrid. Hora do rápido desencontro, Manu é a primeira a embarcar. Trocam endereços eletrônicos e promessas de reencontros, até hoje nao concretizadas, mas a esperança permanece em Manu. Chegando em Lisboa, espera por Roberto. Alguém que nao conhecia, a não ser virtualmente. Mas que lhe ajuda por ser riograndino, e mais precisamente, quintense. Manu começa a notar a pequena diferença geográfica entre os lugares. Lisboa, assim como Coimbra, é feita de morros. E sente literalmente quando ela cai, subindo uma ladeira que fica na direção à casa de Roberto...muito engraçado, por que as solas de seus tenis lisas, a mala de 32k e a ovelha em forma de casaco que carregava ajudaram muito a compor a cena. Noutro dia, Manu vai a Coimbra de Comboio, mais duas horas de viagem, rumo a um quarto que conseguiu pela internet, após a tarde inteira pesquisando. Encontra-se com Seu António na estação Coimbra B, e ele a leva para conhecer o caminho que seria seu trajeto diário até a faculdade. Chega ao apartamento que será a sua morada R/CH B, que até hoje ela não sabe porque r/ch significa térreo. Alias, quem quiser a visitar pode achá-la tomando um chimarrão na portaria do prédio. (Praceta Sá Carneiro, Lote 4, r/Ch B. 3000-194. Coimbra. Portugal) ou ainda quem quiser dar um toquezinho em seu novo celular, ou telemóvel, pra diminuir a distância: 00 351 961032984. Com certeza ela ficará muito feliz. Seguindo...Vai direto ao Hipermercado comprar suas coisas, uma vez que nao tem nada além de roupas de inverno - e faz um calorrrr agora - e livros. Por seu cartão ser novo e sua cabeça muito avoada, esquece a senha e consegue bloqueá-lo. Aqui começa a sua dor de cabeça.

Chega, sabendo que há mais 3 pessoas morando com ela, porém nao vê nenhuma delas. Encontra a noite, a tempo de dar um "oi, prazer" Cátia, caloura de Medicina dentária, e Rita, estagiária de direito. Na sexta-feira, chega em casa a noite e descobre que está sozinha. Toma uma latinha de cerveja que comprou na quinta-feira (antes de decobrir que seu cartão está bolqueado) e espera a hora do sono. O que nao imaginaria é que essa hora seria interrompida por dores altamente fortes. Um momento de desespero que não há como descrever. Sua segunda noite em sua nova casa, sozinha, desprotegida e sem saber como pedir socorro. Após começar a pedir remédio para dor às pessoas que chegavam das festas, ou convívios, no seu edifício - vantagens de morar no térreo - e não ser ajudada, resolve que terá que resolver sozinha. Sai, na madrugada, em direção a um quartel que viu no caminho da faculdade....subindo um pouquinho.... e ao chegar lá, sabe-se lá como, pede ajuda. Chamam uma ambulância e ao chegar no hospital é recebida com uma pulseira laranja com seu nome e alguns números que supôs que a identificariam e a sua situação alí. É analisada clinicamente, faz exames de sangue e ultrasonografias - acreditem tudo na hora - e só não é internada porque suas dores passam logo que vai urinar e põe pra fora os cálculos renais que posteriormente os exames acusariam. Porém, o médico alertou:s "- Se as dores continuarem, volta rápido aqui porque pode ser pricípio de apendicite." Concordou obedientemente e seguiu seu caminho após uma dolorida dose ingetável de analgésico. Passou sábado aos pés da igreja de Santo Antonio dos Olivais, perto de sua casa, respirando um ar de paz que precisava, tomando seu chimarrão e tirando fotos. Volta à noite para a sua casa, e deita-se pedindo para que essa dor pequena que surge novamente seja apenas cansaço. Puro engano. Nova crise. Em desespero abre seu quarda roupas pensando em voltar à proteção de sua mãe, ou mesmo às reclamações noturnas de sua irmã, por acender a luz...porém, pensando nelas mesmo, e em todas as outras pessoas que estão orgulhosas dela estar onde está, fecha-o. Sabendo que será mais forte que isso. Queria ter podido chorar, em desespero, em fraqueza, em oração...ou mesmo como fuga. Porém sua vida fez com que as lágrimas sejam poupadas até que não as suporte mais...infelizmente...

Resolve continuar e lutar, enfim, só está começando. Lembra que uma das suas colegas de AP estuda medicina e deduz que ela deve ter remédio (ridicula dedução, eu sei, mas...naquela hora)...e pior é que acerta. OZONOL...salvou-lhe a noite, ou o início da manhã, pois nessa hora os raios do sol, já a vinham abençoar em seu leito.

O domingo de pijama dentro de casa, apenas lendo, pensando. De corpo, alma e janelas fechados. Fechou-se em si. E aqui somente uma afirmação que muito tinha dito antes de chegar aqui e que nunca imaginou viver tão profundamente e dolorasamente. A cada renascimento é necessária uma morte. Um retirar as cascas mortas, para que outras nasçam. E é essa a sua crença que a a faz seguir a cada dia que tem passado. Dias bons, de encontrar pessoas maravilhosas, como um baiano em sua turma de História da lógica...fantástico, e a turma de calouros que também se fascinou em ter uma brasileira consigo. Como também enfrentar orgulhosamente o menosprezo dos doutores (assim são chamados os veteranos aqui) do terceiro ano. Dias em que nao tinha nada para comer, além de bananas. Dias em que nao teve com quem conversar além de sua mão (bibliografia Tatiane Escouto) e seus pensamentos. Seu António ao saber que Manu estava com dificuldades financeiras, lhe devolve parte do dinheiro do aluguel. Com ele Manu consegue viver até o dia em que seu cartão foi desbloqueado, onze dias após estar aqui.

Disciplinas maravilhosas, e outras nem tanto. Professores competentes, e outros que carregam apenas o seu título. Universidade totalmente tradicional, e assim seus estudantes também o tornam. Desde a praxi (trote) que humilha totalmente o calouro, a ponto de fazê-lo lamber o chão por onde o doutor passa, até o momento em que pode-se usar o trage académico. O qual tem uma capa, que os doutores do segundo ano só podem carregá-la no braço - direito - ... isso quer dizer a hierarquia dividindo espaço com os cartazes de luta pela igualdade vistos nos corredores.

Enfim, essa é forma que Manu começa a caminhar pela sua trilha lusitana. Hoje dividindo casa e saudade com suas mais novas colegas de casa: Vânia (prof de ed. Física), Cátia e Rita, já apresentadas, Patricia e Sofia (irmãs gêmeas que cursam o mesmo curso: Eng. Alimentar). Posso dizer, caríssimos, que Manu foi abençoada pelas pessoas que encontrou em seu trajeto. Essas Portuguesas são infinitamente"fixes" (legais).

Continuamos com ilustrações nas próximas postagens....desculpe a minha máquina está com defeito.

Um comentário:

ana disse...

Guria, ler sue blog está despertando em mim tanta saudade e me arrepiando...a angústia que você passou no seu processo de redescoberta,foi preciso tanta garra, tanta coragem, "cortar o cortão umbiligal"...hoje sinto melhor o que você passou e só aumenta o orgulho que tenho em você...
As saudades de momentos que não voltem mais, mas que sim, podem ser enriquecidos e revividos de outra maneira...
"A cada renascimento é necessária uma morte"...é bem verdade, mas fazer o "luto" dói demais e estamos constantemente a renascer...
As lágrimas teimam em querer cair...
Tanto de bom que você trouxe cá...

Uma piada: "mesmo com medo de apanhar", me lembra a viagem de regresso da passagem de ano, com uma certa leonina danada conduzindo=)

Da sua leonina, um abraço só nosso