sábado, 6 de agosto de 2011

Mulher e Literatura

Queria, mas não tenho como, dar conta de tudo que me acomete neste momento no que se refere ao Mulheres e Literatura, ocorrido em Brasília nos últimos dias. Fica o registro:

06/08/2011
20:56:52
Guga
Renata Avila Troca
tá feliz por se descobrir louca?!
06/08/2011
20:56:57
Renata Avila Troca
Guga
sim
06/08/2011
20:56:59
Renata Avila Troca
Guga
rsrsrsrs
06/08/2011
20:57:02
Renata Avila Troca
Guga
euu
06/08/2011
20:57:07
Renata Avila Troca
Guga
obrigada
06/08/2011
20:57:12
Guga
Renata Avila Troca
minha nossa! É o primeiro sintoma da loucura!
06/08/2011
20:57:39
Guga
Renata Avila Troca
ou o último?!
06/08/2011
20:57:49
Renata Avila Troca
Guga
sei lá,
06/08/2011
20:57:55
Renata Avila Troca
Guga
mas hj to mto feliz

Guga, é um amigo-irmão-marido que acompanha um grande e doloroso processo de descoberta e redescoberta  meu. E ele entende natural e felizmente quando digo que estou feliz por me descobrir louca. Louca por ter uma cor clara, e me declarar negra; louca por ter uma linha partidária na família e não me posicionar de forma alguma contra, nem muito menos a favor, enfim, quando o partido for unido talvez faça algum sentido político... Louca por abandonar um lar por um dar. Louca por me permitir ser, sem saber ao certo o que sou. 
No entanto, essa loucura foi acentuada e registrada neste dia, 06/08/11, porque registra o término do Seminário Mulher e Literatura (XIV Nacional e V Internacional). Disse-me Ele (assim como outros grandes amigos, colegas, companheiros, sonhadores, familiares e curiosos apenas) que queria saber o que eu andei aprontando aqui em Brasília onde me localizo no momento em que escrevo essas linhas.
Antes, porém, de dizer o que andei aprontando, quero dizer o que andei conhecendo.

Conheci, e aprendi a admirar, antes de tudo, uma mulher. Um sorriso, um olhar, um abraçar e confiar. Givânia. Este nome marca a minha história. Uma Renata Negra, nascida em Recife, filha dos Quilombos. Voz dos quilombolas, sonho dos negros e negras que assim como ela, exigem respeito por seus direitos constitucionais. Esta mulher me deu não somente a moradia, mas ensinamento do que é ser negro no Brasil, do que é ser solidário no Brasil; do que deveria ser brasileiro dentro e fora do Brasil.
Conheci vozes negras, há muito escondidas pelas burocracias literárias: Rosária, Fátima, Odete Semedo, Vera Duarte, Sonia Sultuane, Esmeralda Ribeiro, Lia Vieira, Geni Guimarães, Cristiane Sobral, Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves, Miriam Alves, Madu – que se perdeu e se achou nos caminhos desta literatura junto comigo. Conheci pesquisas, sonhos, viagens, escritas, vozes, performances, lutas, revoluções, reivindicações, preconceitos, forças, gritos e SIM onde se queria ouvir não.

Encontrei lágrimas de sangue de irmãs africanas que não sabia que continha em meus poros tão claros e encontrei em meus cachos o sorriso de lisos reprimidos em cabeças escuras. Encontrei cinema, teatro, música, brumas de uma ilha não tão distante. Encontrei Laura que Cavalga e é brilhante.


Não encontrei Tavares, a quem vim buscar. Mas encontrei o remorso, e agora com S, de ter esquecido aquele que muitas vezes já o foi. Encantei-me pela oportunidade de estar frente a frente com a autora angolana, e deixei de lado aquele que tem andado lado a lado comigo. Seu Beto, aquele que tem sido minha bandeira, meu grito, meu lamento e orgulho. Meu eu violento, masculino e machista. Meu eu revolucionário e cheio de defeitos, loucuras e medos.

Foi porém, após o aprendizado de ver a velha negra, Conceição, levantar a cabeça e dizer: Batam palmas, porque este é o nosso momento e o merecemos, Foi porém após ter cantado “Olha o Combo”, Foi porém, após ter chorado com Odete Semedo, Foi porém após ter viajado com as palavras de  Sonia Sultuane, Foi porém após ter conversado com a professora Edileusa Souza que aprendi que as insubmissas lágrimas de mulher não verão mais o chão.

Guga, estou pronta para Guerra. Armada com as armas de Tettamanzy; o que me são suficientes para enfrentar as próximas limitações que tentarão  - em vão – calar a mim,  a Seu Beto e a  todas as outras Poéticas Orais.

Então, o que aprontei aqui, foi mais ou menos isso: sabe aquelas crianças mutiladas, aquelas circuncisões femininas, aqueles lugares negados no emprego, o olhar desconfiado no ônibus... pois é, é mais ou menos isso que andei devolvendo em minha performance durante os meus maiores e melhores quinze minutos de intensa fama. 

Agora, guardo a mateira e me preparo para voltar ao RS... minha Pasárgada de sorriso estampado e coração alargado de tanta emoção.

2 comentários:

Ana Tettamanzy disse...

Pois é, Renata, não sou de deixar comentários em blogs nem de me conectar por redes sociais, sabes que gosto do olho na cara e das vozes em performance, mas também acredito snos videos, então vou deixar aqui minha impressão, arrisquei agora.
sei lá o que exatamente aconteceu em Brasília e como esqueceste seu Beto e por que Ana Paula Tavares não apareceu, mas sei que foi tudo muito intenso e reafirmou muita coisa dentro de ti, tua luta, tua teimosia e insanidade maravilhosa. me vi um pouco ai, e vamos seguir em nossas quixotescas batalhas contra moinhos de preconeitos e frieza burocrática, porque nossas armas únicas e possíveis são a liberdade e a imaginação, temperadas com o soco no estômago.

Bianca Furtado disse...

Lindo, Renata...
Também tive meus insights... Voltei de Brasília, extasiada, leve, densa, presciente do meu caminho.
Fiz amizades profundas, fortes daquelas que ficam, fincam na carne do coração...
Ahhh... isso é bom, nutre a alma, permeia os escritos... isso é bom, isso bom demais.

Beijos de que adorou te conhecer